Trago o sabor do Urujo,
O musgo cor de mostarda
Nas pedras a amparar as Rías,
E o teu sol impresso,
Tal como sonhara;
Trago o semblante da mulher
Que me vende um Godello,
E o sorriso do velho
De jaleco branco atrás do balcão,
Tal como sonhara;
Tudo a dizer que éramos,
O que morremos
No deserto da desmemória,
No paraíso amarelo do presente,
Tal como sonhara;
Trago o conviver entre tempos
Sem muros, a transigência
Entre ontens e hoje a iluminar
As lâminas que formam viagem
E viajante, tal como sonhara;
Trago no corpo a terna transição
Entre Portugal e Espanha,
Tenho na carne o canto galego
E a beleza do Parque Alameda
De Santiago, tal como sonhara;
Trago a piscadela de Rosalía de Castro,
Aonde me levam camélias em flor,
Gerânios e jacintos,
Aura a cingir o colo da poeta-mártir,
Tal como sonhara.
[4/”21 Poemas” – 2015]
- Pôr do sol Rinlo, Lugo (Galícia), Espanha – Foto: José Fontan