Uma beleza o elogio de Francine Prose no “The New York Review of Books” a “Better Call Saul”. A “prequência”, no português infame também da Netflix (“prequela” é ainda pior), de “Breaking Bad” pegou voo próprio na segunda temporada, “mais forte, engraçada e focada que a primeira”.
A série está longe de ser o prato requentado servido a fãs com uma variação de temperos, comum no menu dos “spinoffs”, julga a escritora.
À parte sua originalidade, diz Prose, o desempenho de primeira linha dos atores, a qualidade dos diálogos, roteiros e da edição de imagens, o que faz o seriado ser tão bom é uma relação afetuosa com os personagens e o pendor humano conferido a tipos angustiados, enérgicos, nunca unidimensionais.
Bob Odenkirk (“Slippin’ Jimmy”, Jimmy Lisura ou algo assim, o herói da série antes de se converter em Saul Godman, o advogado defensor de magnatas do tráfico) cresce a cada episódio. Seu embate moral com o irmão Chuck (Michael McKean) tem fumos de boa tragédia e nos leva muitas vezes a reavaliar ideias e juízos instantâneos.
Prose encanta-se especialmente com a advogada meio amiga meio namorada de Jimmy, Kim Wexler (Rhea Seehorn): “Ela nos lembra mais uma pessoa conhecida que um personagem de TV”, compara, favoravelmente à psique atrofiada imposta a atores de séries como “The Good Wife”.
Um artigo sobre “Better Call Saul” no “NYRB”, suprassumo da inteligência literária nos EUA e uma referência mundial, atesta a qualidade do gênero. A telessérie, diz o que já é lugar-comum, absorveu grande parte do talento que servia Hollywood. Há um excelente documentário de Martin Scorsese, “O Argumento de 50 Anos”, sobre a história da revista, disponível na HBO pelo serviço NET/Now.
Em um dos episódios da segunda temporada, Jimmy conta a melhor piada que conheço sobre o tema. Sabe o que um advogado e um espermatozoide têm em comum? Uma chance em três milhões de se tornarem um ser humano.