Remendo um post antigo, que vai abaixo, para propor ao leitor um brinde à memória de Boris Schnaiderman, escritor, tradutor e professor do curso de Língua e Literatura Russa da USP, morto ontem à noite, em São Paulo.
Schnaiderman nasceu na Ucrânia em 1917 e chegou ao Brasil com a família aos oito anos de idade. O retrato acima é do escrito aos 28 anos, quando soldado da Força Expedicionária Brasileira, dias depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
O país deve ao professor —como a outros emigrantes, como a Paulo Rónai— nada menos que a abertura dos horizontes da cultura que adotaram, que é o mesmo que dizer que ele generosamente enriqueceu a vida de leitores como o autor deste jornal.
Tive a alegria de conhecer um pouco da obra de grandes poetas russos por meio das traduções feitas por ele conjuntamente com o irmãos Haroldo e Augusto e Campos.
Schnaiderman, cito o “Estadão”, “verteu para o português importantes obras de autores como Dostoievski, Tolstoi, Chekhov, Máximo Gorki, Isaac Babel, Boris Pasternak, Pushkin e Maiakovski. E atuou como uma espécie de consultor informal de editoras, como quando, sugeriu que a 34 lançasse Contos de Kolimá, brutal relato em vários volumes de Varlam Chalámov sobre a vida no gulag”.
O motivo principal da nota que se segue era dizer uma palavra sobre a poeta Ana Akhmátova, de que tanto gosto.
O POST ANTIGO E NOVO POEMA TRANSCRITO
Lendo “Pós-Guerra – Uma História da Europa desde 1945”, de Tony Judt (Objetiva, 2007), deparo este trecho (pág. 205) no final do capítulo sobre as desgraças perpetradas pelo stalinismo, entre as quais os expurgos e os célebres julgamentos fabricados:
“Os principais inimigos [do “povo”] eram supostamente os camponeses e os burgueses. Mas, na prática, os intelectuais costumavam ser o alvo mais fácil, conforme tinham sido para os nazistas. O ataque venenoso desferido por Andrei Zdanov contra Anna Akhmatova – “freira ou meretriz, ou melhor, freira e meretriz”, capaz de combinar prostituição e oração. A poesia de Akhmatova está totalmente distante do povo” – (…)”.
Lembrei-me do meu querido “Nova Antologia Poesia Russa Moderna” (5ª edição, Brasiliense, 1987), que reúne traduções dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman.
Aproveito para erguer no blog um brinde à poeta, cujo nome os autores da antologia grafam Ana Akhmátova, e transcrever aqui seu “Dístico”:
Que outros me louvem – seu louvor é cinzas.
Que me reproves – teu rancor, alvíssaras.DVUSTÍCHIE
Ot druguikh mnié khvalá – tchto Zolá,
Ot tiebiá i khulá – pokhvalá”.
1931
(Tradução de Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman)
DE VOLTA
No mesmo livro, na página seguinte, com tradução de Boris e Haroldo, aparece este
Do Ciclo Os Mistérios do Ofício
Não me importa o exército das odes,
Nem o jogo torneado da elegia.
Nos versos, tudo é fora de propósito,
Não como entre as pessoas, — me dizia.
Saibam vocês, o verso, é do monturo
Que ele se alenta, sem vexame disso,
Como um dente-de-leão pegando ao muro,
Anserina, bardana, erva-de-lixo.
Grito de zanga, um travo de alcatrão,
Um bolor misterioso que esverdinha…
E eis o verso, furor e mansidão,
Para alegria de vocês e minha.
1940
Prezado Antonio Siúves! Agradecido por sua gentileza e atenção!
CurtirCurtir
Prezado Allan, infelizmente não encontrei nada de relevante, em uma rápida pesquisa. Na Amazon, são oferecidas duas publicações em inglês, uma coletânea de tradutores brasileiros e um livro sobre descendentes de ucranianos.
https://www.amazon.com.br/Brazilian-Translators-Joaquim-Verissimo-Schnaiderman/dp/1157427219/ref=sr_1_14?s=books&ie=UTF8&qid=1464005475&sr=1-14&keywords=boris+schnaiderman
https://www.amazon.com.br/Brazilians-Ukrainian-Descent-Michaelichen-Schnaiderman/dp/1155815726/ref=sr_1_16?s=books&ie=UTF8&qid=1464005475&sr=1-16&keywords=boris+schnaiderman
CurtirCurtido por 1 pessoa
Allan, vou procurar saber e te falo, aqui neste post.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Prezado Antonio Siúves,
agradecido pelo artigo!
Por gentileza, saberias dizer-me se o Professor Schnaiderman, teve algum de seus livros publicados em inglês ou hebraico?
Fraternalmente,
Allan Lemos
CurtirCurtido por 1 pessoa