Nestas notas, PT, Lula, FHC, ler de verdade, meia madalena em BH
e o ritmo do jornal neste fim de semana
RUMOS DO PT
“O PT fez uma aposta num certo capitalismo de Estado, de relações de intimidade excessiva de grandes empresas, governo e partido que evidentemente resultou num desastre”, diz o cientista político Sergio Fausto, na boa reportagem de Malu Delgado, no “Valor”, cujo título é “Que PT surgirá dos destroços?” (Este e outros links do “Valor” são para assinantes.)
ALTERNATIVAS
A matéria ouve outros tantos analistas da métrica eleitoral, incluindo o professor emérito da UFMG, Fábio Wanderley Reis. Em geral, apostam, como a parte majoritária do PT, que Lula tem força para vencer em 2018. Sem Lula, citam José Eduardo Cardozo, Fernando Haddad e Tarso Genro, da corrente minoritária Mensagem ao Partido, além de Jacques Wagner etc., como alternativas.
RUMOS DE LULA
Ao preverem um milagre, os doutores passam por cima da rejeição a Lula, que chegou ao topo do Everest no último DataFolha, 53%. E, ao que parece, dão como irrelevante as consequências para a imagem do partido —ainda muito longe de poder pensar em depurá-la— da ação criminosa reiterada em 13 anos no poder, além da real possibilidade de Lula ser preso.
QUAQUARAQUAQUÁ, QUEM RIU?
Fui eu. De Cardozo, tentando entrar para a posteridade: “Fica claro que o governo do PT e a presidente Dilma eram a mola propulsora do combate à corrupção”.
FHC 2, O LIVRO-1
Na mesma ótima edição do caderno “Eu & Fim de Semana, uma resenha muito bem feita por Luiz Gutemberg sobre o segundo volume do memorial do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (“Diários da Presidência – 1997-1998”, Companhia das Letras, 888 páginas, R$79,90).
FHC 2, O LIVRO-2
Gutemberg diz que FHC, em relação ao primeiro livro, não é o mesmo estadista deslumbrado com o poder, mas que se mostra assustado “com a percepção de que seu mandato é, constitucionalmente, finito”, ou seja, já está se falando da controversa vitória da reeleição. Mas está feliz com as “pompas e circunstâncias”.
FHC 2, O LIVRO-3
FHC é alguém “que celebra as viagens internas e externas, como a hospedagem no Palácio de Buckingham, na visita oficial Londres, que descreve minuciosamente. É proustiano na lembrança do grande jantar no Guildhall, com a realeza britânica —‘quase a impressão de Carnaval’— assim como reproduz prosaicas conversações que testemunha, sobre bebidas, entre a rainha Elisabeth e a princesa Margaret (1930-2002), que, ‘diga-se de passagem, bebe uísque sem parar’…, e registra um almoço no Buckingham com mestres de Oxford, como Eric Hobsbawm (1917-2012), ‘com aquela sua permanente simpatia’, e lorde Jenkins (1920-2003), que o presenteia com sua monumental biografia de Gladstone.”
QUEM LÊ PARA VALER
Ainda no “Valor”, muito interessante coluna de Tatiana Salem Levy, da qual retiro este trecho: “É verdade que nunca se leu tanto (nem que seja para utilizar instrumentos como mensagens de texto, WhatsApp e Facebook); no entanto, nunca se leu tão pouco. Quando falamos em leitura não se trata apenas de uma capacidade de reconhecer palavras escritas, mas sobretudo de interpretar, estabelecer diálogos, conexões. Sermos nós mesmos a web, a teia, a rede. Afinal, a literatura é justamente esse tecido que vai se compondo com linhas de vários tempos, uma colcha de retalhos sem fim.”
MEIA MADALENA
Quis botar o corpo em ordem esta manhã e fui caminhar até o centro. Pensava num café no Kahlúa. Ao baixar pela Bahia, entre Timbiras e Goitacazes, senti a emanação de um coquetel de frutas frescas, à porta dum mercadinho. Por um instante, senti que se abriria uma porta para o final dos anos 1960. Uma criança de mãos dadas com a mãe, os dois acabando de chegar do interior, o menino excitado pelo cheiro da vitamina de frutas nos copos de vidro e, à rua, pela banca de maçãs envoltas na seda azul. Tentei segurar aquela abertura e ampliar o quadro, até voltar alguns passos , mas já era.
A MADELEINE INTEIRA
Foi uma quase madalena. Como todo mundo sabe, a madeleine —o bolinho, confeito ou, como se diz em Minas, a quitanda que acompanha o chá— é uma figura proustiana, de seu grande romance “Em Busca do Tempo Perdido”, e significa justamente isso, a memória involuntária à qual alguém se agarra e, por aquela fresta, buscar reconstruir o tempo.
PARA VER AS MENINAS (O JORNAL NO FERIADÃO)
Este jornal, que tem sido atualizado diariamente há uns dois meses, diminui o ritmo neste feriadão. O autor, cuja jornada tem começado às 6 da matina, às vezes antes disso, tentará pôr a leitura em dia e controlar uma certa exaustão. Ultimamente, tem despertado com “Para Ver as Meninas” de Paulinho da Viola a rodar na cuca e cantarola a música enquanto prepara o café. Isso dever querer dizer alguma coisa.