Reportagem lembra Criolo, o último remanescente
da expedição de Guimarães Rosa que compõe as origens de sua obra

A imprensa cultural no país, este jornal tem insistido, anda mal e não é de hoje. Mas nem tudo se equivale no fosso da decadência.
A Folha ao menos mantém algo da velha inquietação que marca a trajetória da Ilustrada nos últimos 30 anos ou mais um pouco.
Este jornal tem esculhambado o caderno muitas vezes, mas também elogiado quanto vê motivos para isso, como boas sugestões para notas.
Nesta quarta, a Ilustrada se junta às escassas celebrações dos 60 anos de “Grande Sertão: Veredas”, o genial romance de Guimarães Rosa.
No ano passado, Mariana Peixoto, do “Estado de Minas”, já havia rememorado sua história.
O homem é o último remanescente da famosa tropa que Rosa integrou em 1952, com sua cadernetinha atada ao pescoço para registrar o que via, ouvia e traduzia.
Esse material lhe ajudaria a escrever sua obra, em que o Sertão é convertido à perspectiva de quem se via plenamente capaz de retratá-lo com as ferramentas da alta literatura; de quem se sentia seguro de que sua criação iria figurar entre as referências da língua portuguesa e da literatura mundial.
Eis um pequeno trecho da reportagem, em laranja, seguido por uma passagem aleatória da obra:
“Criolo tinha 17 anos quando participou da travessia de dez dias do escritor pelo interior de Minas Gerais. A comitiva foi organizada pelo pai de Criolo, Chico Moreira, e saiu da fazenda Sirga, onde hoje é o município de Três Marias, para levar 180 cabeças de gado até a fazenda São Francisco, em Araçaí, a 240 km de distância.
Guimarães Rosa (1908-1967) era primo de Chico e foi junto para conhecer o dia a dia do sertanejo. Aprendeu a andar de cavalo, a tocar boiada e, quando voltou para casa, no Rio de Janeiro, levou um papagaio”.
Espero me animar a reler a obra este ano, na linda edição da Nova Fronteira, com a capa de tecido branco e título bordado com linha vermelha.
O “Grande Sertão” me lembra um livro sagrado,como um oráculo, você o abre ao acaso e se depara com uma passagem como esta, que vai à página 475:
“Bestiaga que ele me respondeu, e respondeu bem; e digo ao senhor:
— “Sertão não é maligno nem caridoso, mano oh mano!: —…ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor mesmo.”
É o meu preferido. Às vezes abro ao acaso e sempre me incomoda ter que interromper a leitura.
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