
A reportagem, anunciada no final do Jornal Nacional, era de Renato Machado, o que me fez assistir ao Globo Repórter, ontem à noite, depois de muitos anos.
A intuição era boa. Machado e equipe fizeram um GR com texto impecável, boa edição, roteiro simples, informativo e bonito.
O elegante Machado não recairia nos apelos emotivos baratos e nas fórmulas milagreiras, ou na abordagem demagógica e ideológica que procurar dourar a pílula da vida em favelas, coisa comum em tantas atrações da Rede Globo. E não recaiu.
O programa mostrou o trabalho realizado pelo Instituto Baccarelli, que oferece formação musical a mais de mil jovens na comunidade de Heliópolis, em São Paulo, por uma escola de balé no morro da Mangueira, afilhada de Ana Botafogo, no Rio, e os frutos do festival de música internacional organizado em Trancoso, distrito de Porto Seguro, na Bahia.
O GR pretendeu e conseguiu apresentar uns poucos exemplos que comprovam uma verdade banal da vida, mas desmerecida com frequência.
O esforço pessoal, a busca pelo conhecimento e o estudo disciplinado podem transformar a vida de meninos e adolescentes pobres, todos negros, que, nesses casos, aproveitaram as oportunidades abertas nas iniciativas retratadas para expandir seus talentos.
Entre os personagens estava a bela trombonista Aline, que estudou no Baccarelli e atualmente vive na Suíça, onde ganha a vida como instrumentista e faz um mestrado.
Mas mesmo um coração siberiano iria se aquecer ao ver dançar um pouco a carioca Ingrid Silva, hoje no balé do Harlem. A moça é uma força da natureza e o autor deste jornal deitou-lhe una furtiva lacrima, penhorado.