
Margeei Cabezón de Pisuerga e, sem querer, dei um voltinha no carro de um amigo pela minúscula Aldehuela de la Bóveda, onde vivem pouco mais de 300 almas. Pegávamos a estrada para Salamanca, desde Bilbao, no primeiro caso, e para Ciudad Rodrigo, no último. Nesta viagem, passei uma manhã em Covarrubias e horas dessa tarde em Santo Domingo de Silos, vilarejos nas imediações de Burgos igualmente pequenos e despovoados.
Agora, quem sabe — sou levado a pensar —, com estes nomes de povoados e novas paisagens na mesma zona da memória onde se depositam certos traços dos nossos sonhos, no saldo da viagem, talvez eu possa afirmar: “Conheço algo deste país”. Mas não, não quero ser imodesto nem me perder na presunção.
Às goladas, em cada viagem, vou, isto sim, me resignando à sensação de que jamais poderei dizer que conheça ou compreenda bem o diverso, fabuloso e inumerável tesouro espanhol. Cheguei muito tarde a um mundo milenário.
Sei que é ingênuo atribuir ou delimitar este tesouro cultural à extensão de um “Estado espanhol”. Sapo de fora e educado em velhos costumes, não ouso questionar as crenças de quem vive neste território, com argumentos obtidos na História. A política “espanhola” já não era para amadores antes de o Brasil existir. E hoje não está para brincadeiras. Admiro os amigos que preferem a denominação “Espanhas” e querem mais autonomia para as regiões e províncias onde vivem, e respeito quem defenda o independentismo, ainda que este me pareça, quase sempre, uma ilusão, filha dos piores vícios do populismo. Simbolicamente, ao menos, convenho perfeitamente com “Las Españas” e tento aprender com aquelas que visito.

Sei, não obstante, que existe mais em comum entre bascos, catalães, galegos, murcianos, navarros, asturianos, andaluzes, castelhanos-leoneses e castelhanos-manchegos, aragoneses, valencianos, baleares, canários, estremenhos, riojanos, cantábricos e ceutas do que cada indivíduo de algumas dessas regiões autônomas costuma conceder. Se é um espírito, uma maneira de ser e viver ou ver o mundo, não me arrisco a dizer.
Adiantei o relato desta viagem neste e neste outro texto recentes. Amanhã pretendo continuá-lo, a (re)começar por algumas linhas sobre a comida e bares de tapas e restaurantes das tais Espanhas.
