Quem pode com uma nação cujo primeiro mandatário, aos 66 anos, ainda é capaz de dar um “bom-dia mais que especial” à mulher?

Quem pode com uma nação cujo primeiro mandatário, aos 66 anos, ainda é capaz de dar um “bom-dia mais que especial” à mulher?
Reflexões do professor e crítico literário George Steiner nos ajudam a pensar um país dominado pela ordem negacionista, pela delinquência oficial e pela imposição do sentimento de maiorias salientes nas mídias sociais.
O Facebook, que agora se chama Meta, anuncia o melhoramento virtual do mundo. Vem aí o metaverso, a realidade do futuro. Com dispositivos de realidade virtual aumentada, o mundo se revelará mais limpo e bem iluminado. No metaverso, terráqueos poderão “jogar videogames, assistir a shows virtuais, ir às compras de artigos virtuais, colecionar arte virtual, topar com outros avatares virtuais e participar de reuniões de trabalho virtuais”, promete o eterno meninote Zuckerberg.
“Superaremos cãibras, furúnculos, ínguas/ Com Naras, Bethânias e Elis”, diz o canto redentor de Meu coco, canção-tema do novo álbum de Caetano Veloso. “Eu não me entrego não”, ele declara numa entrevista, ao comentar a ordem totalizante de mídias sociais regidas por algoritmos definidos por anjos tronchos mi, bi e trilionários; Chico Buarque também não se entrega como artista não! É capaz de se renovar musicalmente e aprofundar sua literatura, como está claro em seu primeiro e excepcional livros e contos.
Meninos canadenses aprendem que a matemática tem viés “eurocêntrico” e “colonial”; a prefeita de Barcelona enfrenta a LGBTIfobia com um Centro de Novas Masculinidades; nos EUA, um conferencista chamado a palestrar no MIT é desconvidado por ter dito o que pensava sobre a seleção universitária ideal. Como o negacionismo da extrema direita, o irracionalismo “progressista” de cunho identitário e racialista vai longe no mundo — 25 anos depois de o artigo-bomba do físico Alan Sokal ter sido aceito de bom grado pela revista pós-moderna Social Text. Sokal denunciava em seu paper-paródia a deturpação da ciência e a relativização da verdade dos fatos, um pensamento tortuoso que saiu da academia para ganhar as massas na era das mídias sociais.
“Paciência, paciência, paciência”. Traduz-se assim, não duvide leitor!, o canto do sabiá-laranjeira, turdídeo que reina no campo e nas cidades da primavera brasileira, ou na leitura de um novo e estimulante ensaio do filósofo alemão de origem coreana
As conjunções entre a viagem, a literatura e a vida, os podres poderes na Facebooklândia e Los vientos, um conto inédito de Mario Vargas Llosa são destaques nesta edição