Especialistas afirmam que vídeos, fotos e mensagens, de indizível valor para a elevação espiritual dos utentes, deixaram de ser compartilhados, com um prejuízo inestimável à cultura

O povo brasileiro saiu ontem às ruas para celebrar a liberação do WhatsApp pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski. Esta foto foi compartilhada 100 bilhões de vezes pelo aplicativo desbloqueado.
[Versão atualizada em 21/07/2016, com acréscimos e correções.]
Os brasileiros estão prontos para sugerir à ONU a reforma da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Aprovada a propositura, a carta terá nova redação, a exemplo destes trechos:
Artigo 1°: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, inclusive ao uso inalienável e gratuito ao WhatsApp (…).
Artigo 3º: Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade, à segurança pessoal e ao uso do WhatsApp. (…)
Artigo 5°: Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes — incluindo a privação do WhatsApp. (…)
Minhas senhoras, meus senhores:
Ontem à tarde, o Brasil parou pela terceira vez, pela mesma e odiosa razão, quando uma juíza da 2ª Vara Criminal da Comarca de Duque de Caxias, do Rio de Janeiro, arvorando-se prerrogativas ditatoriais, mandou desligar o aplicativo do Facebook.
Por algumas horas, todos os problemas nacionais, todas as dores, todo luto e todo tédio, tudinho foi superado pelo grave atentado ao direito do povo brasileiro de utilizar o dispositivo como bem queira.
Os telejornais entraram ao vivo e dedicaram horas ao novo ataque à liberdade de expressão, à economia de mercado (a comentarista Mara Luquet, da GloboNews, foi às lágrimas) e, por que não?, ao direito universal da pessoa humana de aproveitar a milagrosa e revolucionária tecnologia.
Além disso, contaram-se, no rol do passivo de um povo ao qual se impôs a abstinência do comunicador, namoros partidos, juras quebradas, infidelidades, fome, desencontros.
Ó miséria!
Especialistas afirmam que vídeos, fotos e mensagens, de indizível valor para a elevação espiritual dos utentes, deixaram de ser compartilhados, com um prejuízo inestimável à cultura.
Tsunamis de indignação varreram as redes sociais.
Eduardo Cunha e Dilma Rousseff deram-se as mãos, em pacto provisional contra a hecatombe.
Mas eis que, eternas seis horas depois do bloqueio do WhatsApp, a justiça e a verdade prevaleceram entre os homens. A paz na Terra Brasilis foi restaurada.
O ministro Ricardo Lewandowski, do STF, mandou soltar o aplicativo preso.
Hoje, o Estadão manchetou garrafal o acontecimento.
Hoje, o país também não fala em outra coisa.
O ministro da Justiça anunciou lei específica para satisfazer o trâmite judicial sem ferir garantias essenciais do cidadão e do ser humano.
O Brasil amanheceu feliz.